Kruptós

Monday, December 03, 2007

AMANHECER DA PRIMAVERA #2

Ela é fruto de anis; seu colo está cheio de lusco-fusco entusiasmado. A ferrugem de outubro agora dá lugar a estranhas noites de beijos pensados. De quando o anjo cerúleo de pernas estrangeiras nascia à janela que se abria, em julho morno. Asas abrem. Visto do topo da mais negra das montanhas, o mar estende-se em silêncio azul. Portando olhos incisivos, poema convida o filho noturno para a dança de dias em transe. Resquícios de inverno em novembro varrem pedaços da dor do amor, espalhados na neve que resta. Por boca imaculada, doce voz cantarola as folhas da florescência. Sonhos de bosques regados por oblíqua luz povoam o espírito do forasteiro. Corri até a mais clara das flores, então descobri que ela só crescia à noite, para morrer no amanhecer do meu dito.

De súbito, veio à tona futuro presentado em pétalas azuladas e desejos sutis.

Friday, November 09, 2007

TERRA EM TRANSE

Negro instante;
tempo onde as marcas purpúreas da melancolia brotam por entre sorrisos fugidios.
Sempre e de novo, poema inacabado nos toma de assalto;
súbito aparecer de luar inconfidente.
Oculto. Desvelado.
E minhas mortes cantam dias nostálgicos de um inverno tristonho.
Em meio a silêncio tão meu, desponta o vigor dominante das folhas que desabrocham.
Terra canta;
despedem-se lábios sem dono.
Ressoa esperança em pétreo coração.

ESTRANGEIRO


Azul de noite outonal que exala dos poros de face ainda virgem. Lusco-fusco entusiasmado em doce zumbido canta. Mãos despidas. Um homem vermelho joga dados na frente de criança encaracolada, e lhe derrama os números do bolso. Mistério transborda por sobre palavras mornas. Caverna; gritos abafados. Ressoam notas de canto solene. Fugi até o jardim cinzento. Rasguei cada planta morta. Com dedos afiados, o demônio azul aponta, uma a uma, as cicatrizes deixadas pelo vento gélido. Deus tudo vê. A menina beberica o sangue que escorre de sua própria boca, agonizando em frio momento. Nada resta a não ser o demônio azul em desolado jardim. De voz argêntea, um estrangeiro com chapéu de côco rouba para si um frágil esqueleto. Negros doces cabelos exclamam a dor de felicidade aguda. Maldição de destino. Cada coisa dissolve. Coração vazio recolhe e detém entretempos de não-vidas, sem sequer vislumbrar frestas. É chegada a hora de despertar.

No seio de negra noite, a criança escuta suspiros em chamas. O demônio azul então estende a face até quase não suportar. Seu sorriso torna-se frio e amarelo, decepando cada dedo da criança que dorme entorpecida pelo líquido enegrecido. Uma porta bate violentamente, invisível aos olhos do coxo. Pernas róseas saltam por sobre poças em passos encompassados. Flores amarelas cantam no céu de minha boca. Um tiro. Jovens tomados pela cólera correm pelos jardins abandonados da velha cidade. Pesado suor derrete a face marcada do ferreiro. Tempo que se demora na alma. Levitando por sobre um tronco podre, um anjo branco cantarola canções de ninar indizíveis. Seu pescoço exibe veias saltadas e pegajosos vermes.

Quieto destino. Dourado ardor, embora sutil, toma minha alma de relance. Uma cigarra pousa no ombro do estrangeiro. Embebida do silêncio da dor do amor, a garota de pernas róseas agora deita no tapete de grama. Céu vermelho. Formigas, lesmas e por fim vermes passeiam pelo que restou de carne sem dono. Beijos fugidios são trocados nas sombras de um beco. Grandes negras mãos agarram o pescoço apodrecido do anjo. Ao louco jogado às traças nada mais restava a não ser pintar espelhos. Memórias de dias purpúreos vieram à tona; espectros de quando o infinito parecia quente. Estranha melancolia esparrama-se e recolhe o filho noturno pelo nome. Arrebatado por negra maldição, um deus falido cessa de existir. Oh, maldito espetáculo! Terra em transe. Severo lusco-fusco penetra agora em cada um de meus poros. Pouco falta para a noite que é nova.

Friday, July 06, 2007

PRÓLOGO





Iki, vazio do céu.





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I

Por entre os entretempos de vidas não-vividas.

(como num branco suicídio, doce doce)

Onde o Quando e o Como Co-Respondem a Nada.

Em gritos abafados que Co-Respondem a sussuros inevitáveis e surdos





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II

Sistema. Anátema. Sístole. Diástole. Sol. Dia. Arquia. A. Não(é)A, A,~A, A~A...




(pausa para retomada de fôlego)




Escuto. Canto. Canto do cantinho. No canto do canto do canto da dor. Da dor da voz. Da dor da voz que diz: " - Não-Sim!"





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III

Dentro. Fora. Em algum tempo que não esse sendo de agora, mas ainda assim sendo agora enquanto o que estou a falar já passou “e é, e é memorial”, Goethe apontava para o que se volta para dentro de si mesmo e o que se abre para fora de si mesmo. Terra era e é, e é memorial, Goethe(também). Uni-versado.


(pausa para sístole)


(pausa para diástole)


- ao mesmo tempo -


Goethe, Goedel e Bach. Todos criando, recriando, desmontando, remontando e se perdendo em labirintos indizíveis. Mas dizer isso é dizer o mesmo. E o mesmo deve ser calado, não como mesmidade, mas sim, como o mesmo do mesmo do familiar. Portanto, vamos perder a nós mesmos em... vinhos sem cor, bocas sem dentes e línguas sem palavras.





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IV

“Ponte e palavra, caminho e balança”, ressoa na nova cabeça do velho. Fontes de um etéreo jorrar de si mesmo, por entre o dito, em meio a carcaças sem dono.


...


Caindo em desamor, por amarmos demais. Pré-figurando a Sombra que assombra o Vizinho, Estranho.





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EPÍLOGO


A cabeça de Cíclope que devora a si mesma, Conta. Enumeração. Calcula o desde sempre já conhecido de antemão.

Matemata.

Olho Uno do Mundo, que tudo vê
nada percebe





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APORIA



Semente. Lá, onde ontologia alguma ousou tocar.

“Pisamos em novas terras, quanto mais recuamos”, disse a menina jovem demais que já morreu um par de vezes.

E que desejo é esse de voar, que nunca se satisfaz... ?





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Sunday, July 09, 2006

KRUPTÓS


Clichè seria falar sobre qualquer coisa, já que sei pouquíssimo a respeito de tudo(não há conexão lógica entre as duas sentenças pronunciadas anteriormente; mas, afinal, qual a conexão que não é lógica e, além do mais, nada disso é verdade).

Ah, “nevermind the bollocks”, disse um punk rocker em 1976.

Mas, afinal, qual a importância disso tudo?

Botos cor-de-rosa não ficam bem em filmes preto-e-branco; nunca tente filmar um em Super 8.

Por que os almanacões de hoje não são como os de antigamente?

Porque

"Sempre era o que era e sempre será. Pois, se tivesse vindo a ser, necessariamente nada seria(existiria), antes de vir a ser. Por conseguinte, se nada fosse, de modo algum viria a ser de nada."
(Melisso de Samos, fragmento 1)

e

"No mesmo rios entramos e não entramos, somos e não somos"
(Heráclito de Éfeso, fragmento 49a)

Colocadas as coisas dessa forma, vemos respostas que denotam não simples adversários no pensar, mas sim antagonistas.

“Não ireis parar com matança de sinistros ecos? Não vedes que uns aos outros vos devorais em desmazelos da mente?”

(Empédocles de Agrigento, fragmento 136)


Eu não disse nada. O Nada é que falou através de mim.

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Isso não é o que você pensa. Os caminhos do pensar não são caminhos mas, antes de tudo, podem ser recolocados e refeitos desde o seu começo até um fim que nunca existiu, pois o pensar por si só não possui esse fim.

“Pensar é a limitação a um pensamento que em algum tempo permanece fixo como uma estrela no céu do mundo”, disse Heidegger. “O pensar permanece firme ao vento da coisa”, disse também ele.

Pois

“O Ser e o pensar são o mesmo”; Parmênides.

Não me envergonho, pois estás entretido/a. Eu é que me alieno como o Louco, o único são das histórias em quadrinhos, jogando granadas dentro da boca do Cebolinha, esperando que o pobre garoto perdido de cinco fios de cabelo entenda como as coisas enfim não passam de absurdo no qual nós, enquanto seres (ir)racionais, tentamos pôr regras.

Por que afinal existe o mundo e não antes o nada?

Enquanto isso, mais precisamente em outro tempo, Lewis Carrol se encontra no buraco da toca do coelho que não parece ter fim, lugar este onde milênios antes Alice teria caído, quando nada havia para ser infinito.

Se as coisas parecem organizadas, há alguma coisa de errado.

Que tempo é esse que parece (ser) como hodKasf??

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Penso se o que estou a pensar é alguma coisa que já foi pensada antes. Afinal, pensar sobre o pensar não é novidade.

Solução: pensar sobre o pensar sobre o pensar.

Pensar sobre o pensar sobre o pensar é como caminhar na reta dos números tentando enfim encontrar um limite para o infinito.

Transgredir faz parte da tradição, portanto

“Let’s kill rock ‘n roll”(System of a Down)

Um dinossauro que já está morto, afinal. Tudo o que digo aqui é efêmero, não Evêmero de Agrigento, aquele que primeiro disse os deuses serem apenas imagens aumentadas abstratas criadas a partir de homens que porventura se mostraram poderosos. Evêmero morreu cedo demais. Também pudera, nasceu em 330 a.C. O que morreu cedo demais é o não-nascido, dizia Heidegger sobre Trakl.

“Ouvindo descompassados assemelham-se a surdos; o ditado lhes concerne, presentes estão ausentes."(Heráclito, fragmento 34)

Céus desabam sobre nossas cabeças sem lugar. O vazio finalmente pesa, como um gesto tão distante que não chega a falar, mas sim evocando em seu aceno a mensagem trazida pelos deuses:

“E na medida em que os mais tênues se encontraram na queda.”

(Empédocles de Agrigento, fragmento 104)

Corram, corram, lendas dos pirulitos sem cabeça. Por mais que sejam rápidas, a mão que balança o berço da terra(o céu) e manipula os homens de cabeça para baixo, fazendo tudo parecer sagradamente absurdo nunca os alcançará, pois já os detém sempre de antemão, ainda que a verdade se re-vele, como velamento do Ser.

A colocação que começou como apontamento de um lugar revelou um não-topós que não chega nem de longe a ser uma utopia. Mas para isso ficar claro deve-se ler tudo desde o início, e depois alternando-se na razão de dois parágrafos, e por fim lendo-se de cabeça para baixo(não o texto, o leitor). O leitor que lê a si mesmo é aquele que perdeu-se na quietude que carrega consigo a estranheza. Tal quietude toma quieta o leitor pelo arrebatamento, quieto.



Arrebatamento, quieto.

Arrebatamento, quieto.
Ar

r
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B


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